Em um caso curioso que trouxe à tona discussões sobre a dinâmica do processo judicial e a litigância responsável, o juiz Jorge Di Ciero Miranda, da 34ª Vara Cível de Fortaleza/CE, rejeitou um pedido de desistência da parte autora apresentado a apenas 28 minutos da publicação da sentença final. A decisão, que despertou atenção jurídica e pública, ressalta os limites legais e éticos nas etapas finais de um processo.
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O caso envolvia uma ação de indenização por danos morais movida por um passageiro contra uma companhia aérea por conta do extravio de sua bagagem. Após transitar por diversas fases processuais, inclusive audiência de instrução, o autor apresentou o pedido de desistência já no momento em que o julgamento estava prestes a ser concluído. O magistrado negou o pedido, justificando que o processo estava em sua etapa final e a análise estava exaurida.
Decisão do magistrado
O magistrado destacou que a desistência nesse estágio era inconsistente com os princípios processuais, considerando a demora no protocolo da solicitação. Segundo ele, alegações de falta de causa de pedir e descumprimento de etapas cruciais, como a inserção de providências na réplica, foram ignoradas ao longo do trâmite pelo autor.
A sentença também acolheu improcedente o pedido de indenização, declarando que os transtornos enfrentados pelo autor não configuraram danos morais passíveis de reparação judicial. Ademais, a atitude de resistir na audiência para, em última hora, buscar desistência foi vista como tentativa de evitar os custos da sucumbência.
Outro ponto polêmico da decisão foi a condenação do autor, ainda que beneficiário de gratuidade de justiça, ao pagamento das custas processuais. O juiz ainda enfatizou: “A cobrança destas taxas inibe a aventura jurídica e coloca a sucumbência como risco a ser considerado pelo demandante.”
Repercussão e embargos de declaração
A parte autora posteriormente recorreu à decisão por meio de embargos de declaração, argumentando omissões, tanto na análise do pedido de desistência quanto na valoração do benefício de gratuidade da justiça. Contudo, o juiz manteve sua posição, evidenciando que há necessidade de observância rigorosa ao trâmite regular, reafirmando a correta imputação dos custos.
A decisão é vista como um alerta para práticas processuais abusivas e reforça a importância de uma análise aprofundada antes de se mover uma ação judicial. O juiz reforçou o papel das normas regulamentadoras para evitar aventuras jurídicas desnecessárias que consumam recursos valiosos do sistema judiciário e do Estado.
Impacto e mensagem preventiva
O episódio chama atenção para a relevância de compreender riscos e responsabilidades legais antes de iniciar um processo. Entre suas mensagens centrais, está a de coibir a prática de ajuizamento de ações sem fundamentos sólidos, assegurando a eficiência no uso do aparato judiciário.
Para os operadores do Direito, o caso serve de exemplo sobre o impacto de decisões judiciais tomadas de forma estratégica ou precipitadas em fases críticas da tramitação. A decisão do magistrado é um marco no debate sobre responsabilidades e consequência jurídicas em ações que mobilizam recursos públicos.
Nº do Processo: 0249134-69.2020.8.06.0001
Leia a decisão na íntegra: Desistência e gratuidade de justiça
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Redação
Redação jornalística da Elias & Cury Advogados Associados.